À caça das chechenas “imorais

Kadírov (foto, à direita), reeleito em seu cargo em março deste ano

Cynthia Eisenberg - Revista Fórum - Na primavera de 2007, Vladímir Putin designou Ramzán Kadírov, filho do antigo presidente checheno Ajmat Kadírov (assassinado em um atentado pelas mãos dos rebeldes chechenos) como novo presidente da Chechênia. À frente de um país destruído por duas guerras separatistas (que entre 1994 e 2001 acabaram com 20% da população chechena) Kadírov, reeleito em seu cargo em março deste ano, se propôs a conseguir o ‘renascimento espiritual e moral’ da Chechênia com ajuda de uma milícia especial. Organizações de direitos humanos como a Anistia Internacional acusam esta ‘polícia da moral’ de violar repetidamente os direitos humanos, alegando uma campanha para prevenir o terrorismo. As mulheres constituem o principal objeto de seus ataques, que incluem perseguição, agressões e inclusive morte.
Ramzán Kadírov à frente do governo checheno está levando a cabo um processo de re-islamização da república chechena que ocorre em detrimento dos direitos das mulheres. Há muita repressão sobre a população e elas são as principais vítimas, já que são o setor mais frágil dessa sociedade’, explica Marta Ter, membro da ONG catalã ‘Liga dos Direitos dos Pobres’, e responsável junto à pedagoga Silvia Puente pela campanha ‘Chechênia, rompamos o silêncio!’.

O retorno à tradição, proclamado por Kadírov, reforça a desigualdade das mulheres na sociedade chechena. Às práticas tradicionais como o roubo de namoradas, pela qual um homem caso seja rechaçado por uma mulher pode sequestrá-la e violá-la e casar-se com ela para lavar sua honra, se somam atualmente a obrigatoriedade do uso do véu e a validação pelo estado da poligamia e dos assassinatos de mulheres por questões de honra.

Em várias entrevistas Kadírov declarou que as mulheres são inferiores aos homens, devem obedecer-lhes e cobrir seus corpos para não tentá-los. O informe “You Dress According to Their Rules: Enforcement of an Islamic Dress Code for Women in Chechnya” (Você se veste de acordo com as regras deles: Imposição de um Código de Vestimenta Islâmico para as mulheres na Chechênia) documentou atos de violência e ameaças contra as mulheres e meninas com o fim de intimidá-las e fazer com que cubram o cabelo e o corpo. Paralelamente, em março deste ano, um informe do Human Rights denunciou os ataques dos guardiões da moral que são recorrentes nas ruas de Grozny, capital da Chechênia, disparando com pistolas de paintball contra as mulheres que resistiam a cobrir suas cabeças. Em relação a estes fatos, Kadírov assegurou pela televisão estatal que não conhecia os responsáveis por esses ataques, mas que quando os encontrasse expressaria sua gratidão por colaborarem com a recuperação moral do país.

O líder, apoiado por vários membros do governo, se pronunciou também a favor da legalização da poligamia com a desculpa para elevar a taxa de natalidade e contribuir desta maneira ao renascimento checheno. O mesmo manifestou aos meios que se encontra na busca de uma segunda esposa: "É melhor para uma mulher ser a segunda ou terceira esposa que see assassinada por sua 'má conduta'", declarou em uma entrevista que concedeu à Rossiiskaia Gazeta.

A má conduta ou "perda da moral" a que se refere Kadírov justificaria, a seu entender, os assassinatos de mulheres. Em fins de novembro de 2010, sete mulheres foram assassinadas com tiros na cabeça em Grozny; o presidente atribuiu as mortes a questões de honra, afirmando que a perda da moral de ditas mulheres foi o fato que obrigou os homens de suas famílias a assassiná-las, dizem, ainda, que ‘na Chechênia temos esses costumes. Qualquer menino, até o menor deles, se sua irmã levasse uma vida imoral, pensaria em matá-la’.
Paralelamente crescem as suspeitas da implicância do governo nos assassinatos de mulheres e homens, jornalistas e ativistas de direitos humanos contrários à política de Kadírov. O Centro de Direitos Humanos Memorial denunciou repetidamente a relação do líder coma morte da ativista de direitos humanos Zarema Sadulayeva e seu esposo, e das jornalistas Natalia Estemirova e Anna Politkovskaya, entre outros. De sua parte, a Anistia Internacional solicitou o fim da impunidade e o esclarecimento destes assassinatos.
O medo e a falta de difusão sobre a violação dos direitos hum

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