Impasse Fiscal nos EUA é culpa do Estado Mínimo Neoliberal


Carta Maior - A carga fiscal nos EUA depois de três décadas de domínio neoliberal é de 24% do PIB. A plutocracia nada em isenções de impostos concedidas por sucessivos mandatos republicanos,enquanto 45 milhões de norte-americanos passam fome por insuficiência de renda. A carga fiscal americana é a mais baixa entre os países ricos e costuma ser festejada pelo jornalismo nativo como evidência de correlação entre economia forte e Estado mínimo.
Na Alemanha da insuspeita dama de ferro Angela Merkel a carga é de 37% do PIB. Na Dinamarca cujo padrão de vida e urbanidade são invejados pelas elites nativas em seu eterno giro pelas alfandegas, a taxa passa de 44%. Mas elas maldizem os 34,5% do Brasil, que acusam de financiar o que classificam como ‘gastança’, tipo Bolsa Família e outros programas e direitos, como escola pública ou aposentadoria rural. Nesse momento de transparência das coisas, o facho de luz da crise mundial mostra o capitalismo americano colapsado pela sua hora da verdade fiscal: a receita do país hoje é 11% inferior ao que se gasta (no Brasil o déficit é de  3% e eles espumam).  Do lado do Tesouro, para cada US$ 6 que arrecada, outros US$ 4 são tomados como dívida junto ao mercado. A dívida pública rompeu o limite de US$ 14 trilhões e os republicanos não aceitam elevar o teto do endividamento. Se fosse para valer,  a partir de agosto, fornecedores e rentistas aplicados nos títulos do Tesouro estariam sujeitos ao calote. A ortodoxia republicana cega e esperta ao mesmo tempo, na verdade trava um braço de ferro com Obama: só dá mais corda fiscal para o Presidente se ele se comprometer com um corte expressivo de despesas até 2014, acuando assim sua reeleição num corner de medidas antipopulares, inclusive na área a saúde, em plena campanha eleitoral. O ponto, porém, é que se a ideologia do Estado mínimo é suficiente para colocar em risco a solvência da maior economia capitalista da terra,  do que não será capaz em latitudes tropicais? Nos EUA, os mercados e a extrema direita republicana ameaçam jogar a economia no caos para manter o privilégio fiscal dos ricos às custas dos pobres. Na outra ponta, as esperanças repousam na tibieza de um presidente fraco, que levita sobre uma sociedade atomizada, corroída pela desindustrialização e o esfarelamento  sindical e partidário. Ou seja, o oposto do universo mobilizado que ancorou o New Deal nos anos 30. A salgar tudo com o sal grosso da regressividade  materializada no Tea Party, uma classe média adestrada em seus medos e ignorância pelo noticiário da Fox News, do magnata Rupert Murdoch, cujas credenciais dispensam apresentações. Difícil.

Comentários

Postagens mais visitadas